sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

METRÔ DE SP: EX-DIRETORES OMITIRAM R$ 11 MILHÕES


O Globo - Publicado: 7/02/14 - 7h00
  • Pelo menos R$ 11,6 milhões passaram pelas contas dos suspeitos - por Cleide Carvalho (por email)
SÃO PAULO - Cinco ex-integrantes do governo paulista, que tiveram o sigilo bancário quebrado pela Justiça na investigação do cartel do metrô, movimentaram em suas contas cerca de R$ 11,6 milhões acima dos rendimentos declarados à Receita Federal entre 2000 e 2011. A principal suspeita da Polícia Federal é que eles tenham atuado como repassadores de propina a políticos. As informações fazem parte do inquérito da Polícia Federal, encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Todos faziam parte da diretoria da CPTM, a companhia de trens paulista, em 2000, quando foi assinado o contrato do Consórcio Sistrem, no valor inicial de R$ 527 milhões, o principal alvo das investigações. Três deles foram indiciados no inquérito da PF por crimes como corrupção passiva, evasão de divisas e lavagem de dinheiro e suas transações financeiras estão sendo analisadas pela Polícia Federal.
Pedro Pereira Benvenuto, ex-diretor de planejamento da CPTM, comandou até setembro passado contratos de mais de R$ 10 milhões das Parcerias Público Privadas paulistas, quando um depoimento da secretária de Jorge Fagali Neto, investigado num dos contratos da empresa Alstom com o estado, mostrou que seu chefe recebia informações de projetos do metrô e da CPTM repassadas por Benvenuto.
Segundo cruzamento de informações bancárias e relatórios da Receita Federal, Benvenuto e sua mulher movimentaram, juntos, R$ 2 milhões a mais que as receitas declaradas — a maior parte, R$ 1,4 milhão, passou pelas contas dela de 2007 a 2009. Num único ano, 2001, ele adquiriu imóveis no valor de R$ 892 mil. Até 2007, a Benvenuto Engenharia chamava-se Projob. Entre 2003 e 2011 a empresa, criada no município de Cajuru, sua cidade de origem, recebeu 513 créditos, num total de R$ 1,927 milhão. No mesmo período foram relacionados mais de mil débitos, mas só dois beneficiários de saques foram identificados até agora e em valor irrisório. Um morador de Cajuru encaminhou carta às autoridades informando que ele teria empresa de consultoria de fachada.
Outro investigado é Benedito Dantas Chiaradia, que deixou o governo após, em depoimento, dizer que sabia do pagamento de propinas a políticos. Seu último cargo foi no Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE). Ele foi diretor financeiro da CPTM e chefe do departamento jurídico do Metrô. Os dados revelados pela perícia da PF, com base em dados fiscais e bancários, apontam que de 2004 a 2006 ele movimentou nas contas R$ 1,557 milhão a mais do que declarou ter recebido.
— Não tivemos acesso a este laudo e a informação que temos é que nada foi encontrado que relacione a movimentação financeira do meu pai ao caso Siemens. Ele não foi indiciado. A movimentação, por si, não é indício de propina ou dinheiro ilegal — disse a advogada Adriana Chiaradia, que atua na defesa do pai.
A empresa Focco Engenharia, que pertence a dois ex-diretores da CPTM — João Roberto Zaniboni e Ademir Venâncio de Araújo — movimentou R$ 3,8 milhões a mais em suas contas do que o valor recebido oficialmente de seus clientes entre 2004 e 2009. As transações excederam sua receita bruta em mais de 100% nos anos de 2005, 2006 e 2007. Zaniboni e suas duas filhas, Mariana e Milena, foram indiciados pela PF. Apenas nas movimentações de pessoa física, Zaniboni registrou transações R$ 2,215 milhões dos rendimentos conhecidos no período de 2004 a 2009, logo após ter saído da CPTM.
O ex-presidente da CPTM Oliver Hossepian Salles de Lima, que administrou a companhia de trens paulista entre 1999 e 2003, movimentou R$ 2,135 milhões de origem desconhecida de 2004 a 2009 — somente entre 2007 e 2009, os créditos recebidos sem identificação superaram R$ 1 milhão. Ao mesmo tempo, entre 2007 e 2008 ele fez pagamentos a terceiros no valor de R$ 3,247 milhões, a maioria em cheque a ser descontado na rede bancária, o que dificulta a identificação do beneficiário.
O advogado Luiz Fernando Pacheco, que representa Zaniboni e Ademir Araújo, disse que desconhece esses números e que seus clientes e a empresa deles, a Focco, não foram autuados pela Receita Federal. Ele afirmou que o valor acima dos rendimentos declarados não se refere a qualquer propina.
Marcelo Martins de Oliveira, advogado de Hossepian Salles de Lima informou que, em função de doença, seu cliente não consegue apresentar sua defesa e que as declarações de renda foram retificadas pela mulher dele, na condição de curadora. Benvenuto não foi localizado pelo GLOBO.

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